sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A Verdade Dói.




















Há poucos dias me lembrava de uma situação que muitas vezes nos deixa constrangido. Já era final de expediente, sexta-feira, quando adentrou ao consultório um jovem casal com poucos meses de casados e recentemente vivendo na cidade, após transferência do esposo, que veio a trabalho. A esposa se queixava de falta de ar, opressão no peito, palpitações e sensações ruins. Como é de praxe indaguei sobre suas doenças do passado, do meio familiar, condições fisiológicas e estado emocional. Quanto à família havia uma grande preocupação com doenças cardíacas, já que a mesma tinha sido observada até em jovens. Ela me informou que há cerca de uns três anos havia feito um check-up com um cardiologista em sua cidade natal e que o resultado fora normal, tendo sido medicada com calmante de flora. Poucos dias antes de me procurar tinha sido atendida no pronto socorro da cidade e que a colega que a atendeu havia lhe dito que estaria com Síndrome do Pânico. Bem, tentando orientá-la, lhe expliquei quais as doenças cardíacas mais comuns que afligem pessoas jovens: alguma alteração ao nascimento, uma herança familiar dominante e até uso de substâncias ilícitas. Abrindo aqui um parêntese, angina ou infarto em pacientes jovens, nos obriga a pensar no uso de cocaína. Notando um grande desconforto do casal nas palavras e postura, perguntei à paciente se era feliz, se estava gostando de morar na cidade. Então, ela olhou para o marido, olhou de novo e usou de meias palavras. Conclui: você não me parece feliz! Ficou nítido o desconforto de ambos. Ela já havia declarado que desde criança era uma pessoa nervosa e que o ambiente familiar era agitado. Examinei a paciente, nada constatando de alterado. Solicitei um Teste Ergométrico e outros exames de rotina. Ao final da consulta disse-lhe que não acreditava numa doença cardíaca para ela, apesar do histórico familiar. Sugeri uma atividade física que lhe desse prazer, que voltasse a estudar e até ter uma atividade profissional, algo que a realizasse, já que não tinha relacionamentos sociais e nem profissionais na cidade. Novamente, clima de desconforto. Disse ainda que eu era o terceiro médico que via seus sintomas como de origem emocional. Demonstrando surpresa me perguntou, como assim, terceiro? Respondi afirmativamente, já que o primeiro foi o seu cardiologista que a medicou com calmantes de flora, depois, a colega do pronto socorro, que levantou a hipótese de Síndrome do Pânico e agora, eu. Pude observar um ar de surpresa na sua pergunta, até então, ela não tinha se dado conta que falávamos a mesma coisa. Por algum motivo, seja ele, comodismo, resistência a mudanças ou ganhos secundários, determinadas pessoas trilham o caminho de evitar a verdade, talvez por medo da dor, mas, que muitas vezes dói tanto quanto. Abraço e até breve.

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