Em medicina se diz que as coisas acontecem aos pares, para não negar o dito, recentemente, tive dois casos de sífilis no consultório. Doença que há muito tempo não tinha contato e que me levou a rever a bibliografia e deixar este texto no blog.
A Sífilis é uma doença infecciosa causada pelo Treponema pallidum, uma espiroqueta de alta patogenicidade. Tem como reservaório o homem e seu contágio ocorre nas relações sexuais, na gestação por via sanguínea e a contaminação não-sexual é extremamente raro.
Geralmente de 1 a 3 semanas após o contágio surgem os primeiros sinais/sintomas da doença.
A Sífilis adquirida de relações sexuais pode apresentar manifestações recentes e tardias, ou seja, ela cronifica e apresenta consequências durante anos na vida do contaminado.
A forma recente ocorre no primeiro ano de evolução da doença não tratada. Podendo apresentar manifestações ditas primárias, secundárias e latente.
Na Sífilis recente primária encontramos o cancro duro, que é uma lesão ulcerada de bordas endurecidas que surge em 1-2 semanas, com ínguas/adenites na virilha (região inguinal) e desaparece espontaneamente em 4 semanas e sem deixar cicatrizes.
Na Sífilis recente secundária ocorre a disseminação do Treponema pelo organismo, isto, após 4-8 semanas do surgimento do cancro da fase primária. Nesta fase podemos ter uma vermelhidão (exantema) pelo corpo que não causa coçeira (prurido). A seguir podem surgir papulas nas palmas e plantas dos pés, lesões nas mucosas (placa), ínguas disseminadas pelo corpo e alopécia (queda de cabelo) em clareira.
Na Sífilis recente latente não se observa necessariamente alterações teciduais, apesar dos Treponemas se encontrarem alojados em vários tecidos do organismo. Podemos observar com certa frequência uma polimicroadenopatia (ínguas) cervicais (pescoço), epitrocleanos (cotovelo) e inguinais (virilhas).
A forma tardia ocorre após um ano de evolução da doença não tratada. Podendo apresentar manifestações cutâneas, ósseas, cardiovasculares, neurológicas e etc.
Na Sífilis tardia cutânea encontramos lesões gomosas e nodulares que drenam secreção e com cárater destrutivo do tecido.
Na Sífilis tardia óssea encontramos lesões gomosas nos ósseos, artrites, artralgias, sinovites e nódulos próximos das articulações.
Na Sífilis tardia cardiovascular encontrmaos uma aortite sifilítica com insuficiência aórtica, aneurisma e estenose de coronárias.
Na Sífilis neurológica que pode ser sintomática ou assintomática encontramos meningite, goma do cérebro ou da medula, epilepsia, atrofia de nervo óptico, lesão do sétimo par, paralisia geral e/ou das pernas.
Na Sífilis congênita ocorre a contaminação do feto pela mãe em qualquer período da gravidez e em qualquer fase da doença citada anteriomente. Lembrando novamente e repetidamente que isto tudo já citado até aqui ocorre em pacientes não tratados ou tratados de forma inadequada. Neste texto não abordarei as lesões que podem ocorrer no recém-nascido de mãe sifilítica.
Diagnóstico: Clínico pelas características da doença e história de contatos suspeitos prévios e laboratorialmente.
Microscopia de campo escuro para identificação do Treponema pallidum.
As sorologias, de uso mais rotineiro, seriam o VDRL (qualitativo e quantitativo) e o FTA- abs (imunofluorescência direta - indireta e quantitativa). O VDRL é indicado principalmete como controle de cura, já que os títulos vão diminuíndo após o tratamento eficaz.
No liquor podemos encontrar pleocitose, hiperproteinorraquia e positividade das reações sorológicas em caso de sífilis neurológica.
Diagnóstico diferencial: cancro mole, herpes genital, linfogranuloma venéreo, donovanose no caso do cancro primário. Sarampo, rubéola, ptiríase rósea de Gilbert, eritema polimorfo, hanseníase e colagenoses no caso das lesões cutâneas secundárias. Toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes na sífilis congênita. Ou seja, o leque de possibilidades é grande, não podemos é deixar de pensar na doença. É preferível pensar e não ser, do que deixar passar um diagnóstico.
Tratamento:
2.400.000 de penicilina benzatina em dose única na sífilis primária.
2.400.000 de penicilina benzatina 1 vez por semana/ 2 semanas na sífilis secundária.
2.400.000 de penicilina benzatina 1 vez por semana/ 3 semanas na sífilis terciária.
Seguimento do paciente:
VDRL com 1, 3, 6, 12, 18 e 24 meses após o tratamento, caso haja nova elevação dos títulos reavaliar o caso. Avaliar concomitância com HIV/AIDS.
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